presentes imateriais
a simbologia dos presentes que já recebemos de quem amamos
O que agosto desconcertou. Setembro assentou. Tento não me colocar em um lugar de grande dependência da validação externa ou de elogios. Mas, como uma pessoa que continua aprendendo a aceitá-los de maneira orgulhosa, venho agradecer à moça que pediu para voltar com a news. Amo esse espaço e, por priorizar outros projetos, acabei pausando esse. Um tema simbólico, o ato de presentear. A palavra “presente” vem do latim, referindo-se àquele que está presente ou “à frente” de alguém.
Presentes emocionais
Ser desenhada.
Ser escutada.
Uma dedicatória em um livro.
As explicações sobre fotografia e Frank Ocean.
Meu pai cozinhando abóbora porque sabia que era algo que eu gostava de comer quando estava triste.
Massagens não profissionais.
A notável admiração pela minha curiosidade.
O incentivo a minha escrita.
Tentar entender meu vocabulário emocional.
A preocupação genuína com minha cachorra.
Quando se lembram do meu cheiro.
Ganhar um caderno novo para estudar inglês.
Quando cozinharam comida vietnamita.
Me lembrou que sou uma boa companhia.
Respeito a minha introspecção passageira.
Me alertou sobre a constante autocrítica.
Cartas escritas a mão.
Minha amiga fazendo carinho no meu cabelo até ficar com câimbra.
Bolo de aniversário feito do zero.
Um anel de papel.
Presentes comerciais
Flores. Dinheiro. Joias. Plantas. Livros. Camisetas. Fones de ouvido. Doces. CD. Cesta de chocolates. Batom. Tênis. Coelho de pelúcia. Alfajores. Mate. Produtos de skincare. Lenços. Velas. Souvenirs da Mafalda. Terrário. Bolo de Girassol. Incensos. Livros. Viagens.
*
Um desses presentes não presentes, um ato de serviço ou simplesmente cuidado? Estava bêbada e lavar o cabelo é algo importante pra mim. Eu sei, pode parecer patético. Mas se sinto meu cabelo com aspecto sujo, fico levemente irritada. Estava de viagem ao Rio de Janeiro. Lavar o cabelo é algo que fazia diferença no meu sono, mas estava muito cansada, pesada e levemente alcoolizada. Incapaz de fazer todo o ritual e suas etapas, de passar shampoo, lavar, colocar creme de hidratação, esperar seus bons minutos, desembaraçar o cabelo e posteriormente penteá-lo novamente, para finalizar com condicionador. Uma situação cercada de preguiça, ainda mais pós-date de madrugada. E mesmo assim, sem precisar pedir ou necessitar de grandes explicações. Ele lavou meu cabelo, fez todas as etapas chatas e variáveis. E secou. Todo atrapalhado e sem saber manusear muito bem um secador e uma escova. Esforçado. Acho que agradeci antes de dormirmos.
Foi um agradecimento automático and robótico? não consegui raciocinar sobre o quanto aquilo foi satisfatório. Lembro disso com carinho, porque me senti em um déjà vu navegando dentro da minha própria infância, enquanto meus pais me davam banho e contavam histórias, o ato de levar brinquedos para o banho, a sutileza da imaginação em melhorar momentos cotidianos. Foi marcante. Um banho paciente. Obviamente, eram dois corpos adultos e desnudos. Mas naquele momento não existia uma faceta erótica e primitiva. Eram só duas pessoas se preparando para dormir em uma noite de calor.





Fotografia analógica. Lembro que me disse que a única maneira de que eu ainda permanecesse seria quando ele revelasse o filme. Meu rosto seria eternizado naquele espaço privado, naquela sala do outro lado da cidade. Mesmo que meu corpo estivesse em outro continente. Nunca vi como a fotografia ficou. Se o negativo estragou. Se foi rasgado. Jogado no lixo.
Claro que é satisfatório ganhar presentes comerciais. A nossa régua interna também quer entender o quanto somos valorizados economicamente. É algo meio indefinido quando o ato de presentear se iniciou na nossa civilização, essa linguagem social aceita para manutenção de laços sociais. As trocas de presentes em rituais religiosos, como forma de agradecimento, com colegas chatos do trabalho, com amantes, familiares ou como forma de garantir prosperidade. Presentear de alguma maneira é querer estar presente. Qual o seu presente não presente mais te marcou?
O meu agradecimento aos presentes e as longas conversas, debates que contribuíram para o meu repertório simbólico e cultural como adulta. Acumulado com o tempo. Interpretado com o que fiz das minhas escolhas, escutando o que parece doloroso e ainda sim observando o outro.
O que ouvi:
O que assisti:
O Último azul, gostei muito.
O que li: Ottessa Moshfegh, Morte em suas mãos.
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Contente que a moça te fez retornar aqui. Presentes em efeito dominó.